Santo Agostinho
1. Hoje celebramos Ascensão do Senhor ao Céu. Não escutemos em vão as palavras: “elevemos o coração”, e subamos com Ele com o coração íntegro, segundo aquilo que ensina e diz o Apóstolo: “Se haveis ressuscitado com Cristo, gostai das coisas do alto, onde está sentado Cristo à direita do Pai; gostai das coisas do alto, não das da terra. A necessidade de fazer obras siga na terra, mas esteja no céu o desejo da ascensão. Aqui a esperança, lá a realidade. Quando tivermos a realidade lá, não haverá esperança nem aqui, nem lá; não porque a esperança careça de conteúdo, mas porque ela deixa de existir diante da presença da realidade. Ouvi também aquilo que disse o Apóstolo acerca da esperança: “Fomos salvos na esperança. Mas a esperança que se vê não é esperança, porque se alguém vê, como o espera? Em verdade, se esperamos o que não vemos, pela paciência o esperamos”. Prestai atenção aos próprios assuntos humanos e considerai que se alguém espera tomar mulher é porque ainda não a tem. Pois se a tem, que espera? Casa-se efetivamente com a mulher porque esperava fazê-lo e já não esperará mais tal coisa. A esperança chega assim a seu termo felizmente quando se faz presente na realidade. Todo peregrino espera chegar à sua pátria; até que não esteja nela segue esperando; mas, uma vez que tenha chegado, deixa de esperá-lo. À esperança sucede a realidade. A esperança chega felizmente a seu termo quando se possui aquilo que se esperava. Portanto, amadíssimos, agora haveis ouvido elevar o coração, ao mesmo coração se deve que pensemos naquela vida futura. Vivamos santamente aqui para viver lá.
2. Vede quão grande foi a condescendência de Nosso Senhor. Quem nos fez desceu até nós, posto que havíamos caído dEle mas, para vir até nós, Ele não caiu, mas antes desceu. Portanto, se desceu até nós, elevou-nos. Nossa cabeça nos elevou já em seu corpo; onde está Ele, seguem-no também os membros, posto que aonde se dirigiu antes a cabeça, hão de segui-la também os membros. Ele é a cabeça, nós somos os membros. Ele está no Céu, nós na terra. Tão longe está Ele de nós? De nenhum modo. Se te fixas no espaço, está longe; mas, se tu te fixas no amor, está conosco. Com efeito, se Ele não estivesse conosco não haveria dito no Evangelho: “vede que eu estou convosco até a consumação do mundo”. Se ele não está conosco, somos uns mentirosos quando dizemos: “O Senhor esteja convosco” . Tampouco haveria gritado do Céu quando Saulo perseguia não a Ele, mas aos seus santos, seus servos, ou, para usar um termo mais familiar, seus membros: Saulo, Saulo, por que me persegues? Eis aqui que Eu estou no Céu, e tu na terra entre os perseguidores. Por que dizes “me”? Por que persegues meus membros, através dos quais Eu estou aqui. Com efeito, se se pisa alguém no pé, não permanece calada a língua. Assim, pois, Aquele pelo qual foram feitos o Céu e a terra desceu à terra por aquele que fez da terra, e elevou a terra daqui ao Céu. Esperemos para o final aquilo que já nos antecipou Ele. Ele nos dará o prometido. Temos essa certeza porque nos deixou uma garantia. Escreveu o Evangelho; nos dará o prometido. Mais é aquilo que já nos deu. Por acaso vamos pensar que não nos dará a vida futura quem já nos deu sua morte? Por nós tomou na terra a humilhação da paixão, as injúrias, as burlas e tudo quanto havia de vil, e não nos dará o reino, felicidade, a imortalidade e a eternidade? Tendo sofrido nossos males, não nos doará seus bens? Caminhemos confiantes em direção a essa esperança, porque é veraz quem a prometeu; mas vivamos de tal maneira que possamos dizer com a cabeça bem erguida: “Cumprimos o que nos mandaste ; dá-nos aquilo que nos prometeste”.
Traduzido por Leonardo Brum a partir da versão espanhola disponível em <http://www.augustinus.it/spagnolo/discorsi/discorso_564_testo.htm>.
Segue abaixo texto com o próprio da Missa da Ascensão do Senhor.