Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Vida dos Quatro Mártires Coroados

Os quatro márties coroados, por Nanni di Banco, Orsanmichele, Florençpa, Itália.

Johann Peter Kirsch, Enciclopédia Católica

Os antigos livros guias dos túmulos dos mártires romanos fazem menção, em conexão com a catacumba dos Santos Pedro e Marcelino na Via Labicana, aos Quatro Mártires Coroados (Quatuor Coronati), em cujo túmulo os peregrinos costumavam prestar culto (De Rossi , Roma sotterranea, I, 178-79). Um desses itinerários, o “Epitome libri de locis sanctorum martyrum“, acrescenta os nomes dos quatro mártires (na realidade cinco): “IV Coronati, id est Claudius, Nicostratus, Simpronianus, Castorius, Simplicitus“. Estes são os nomes de cinco mártires, escultores nas pedreiras da Panônia (agora parte da Áustria-Hungria*, a sudoeste do Danúbio), que deram suas vidas por sua fé no reinado de Diocleciano. Os Atos desses mártires , escritos por um oficial da receita chamado Porfírio, provavelmente no século IV, relatam os cinco escultores que, embora não tenham levantado objeções à execução de imagens profanas como Vitória, Cupido e a Carruagem do Sol, recusaram-se a fazer uma estátua de Esculápio para um templo pagão. Por isso, eles foram condenados à morte como cristãos, sendo colocados em caixões de chumbo e afogados no rio Save. Isso aconteceu no final de 305. O relato anterior do martírio dos cinco escultores da Panônia é substancialmente autêntico; mas mais tarde uma lenda surgiu em Roma sobre o Quatuor Coronati, segundo a qual quatro soldados cristãos (cornicularii) sofreram o martírio em Roma durante o reinado de Diocleciano, dois anos após a morte dos cinco escultores. Sua ofensa consistia em se recusar a oferecer sacrifícios à imagem de Esculápio. Os corpos dos mártires foram enterrados junto a São Sebastião e Papa Melquíades no terceiro marco da Via Labicana, em uma caixa de areia onde repousavam os restos mortais de outros que morreram pela fé. Como os nomes dos quatro soldados mártires não puderam ser autenticamente comprovados, o Papa Melquíades ordenou que, sendo a data de sua morte (8 de novembro) a mesma dos escultores da Panônia, seu aniversário fosse celebrado nesse dia, sob os nomes de Santos Cláudio, Nicóstrato, Sinforiano, Castor e Simplício. Este relato não tem fundamento histórico. É apenas uma tentativa de explicação do nome Quatuor Coronati , um nome dado a um grupo de mártires realmente autênticos que foram enterrados e venerados na catacumba dos Santos Pedro e Marcelino, cuja verdadeira origem, porém, não é conhecida. Eles foram classificados com os cinco mártires da Panônia em uma relação puramente externa. Numerosos manuscritos sobre a lenda, bem como o Martirológio Romano, dão os nomes dos Quatro Mártires Coroados, supostamente revelados em uma data posterior, como Segundo, Severiano, Carpóforo e Vitório. Mas esses quatro mártires não foram enterrados em Roma, e sim na catacumba de Albano; sua festa foi celebrada em 7 de agosto, data em que é citada no Calendário Romano de Festas de 354. Esses mártires de Albano não têm nenhuma conexão com os mártires romanos descritos acima. Dos quatro Mártires Coroados, sabemos apenas que sofreram a morte pela Fé e pelo lugar onde foram sepultados. Evidentemente, eram tidos em grande veneração em Roma, já que nos séculos IV e V uma basílica foi erguida e consagrada no Monte Célio, provavelmente na vizinhança do local onde a tradição localizava sua execução. Esta se tornou uma das igrejas titulares de Roma, foi restaurada várias vezes e ainda está de pé. É mencionada pela primeira vez entre as assinaturas de um concílio romano em 595. O Papa Leão IV encomendou as relíquias, removidas por volta de 850, da Via Labicana para a igreja dedicada à sua memória, junto com as relíquias dos cinco mártires da Panônia, que haviam sido trazidas a Roma em algum período agora desconhecido. Ambos os grupos de mártires são comemorados em 8 de novembro.

* Nota do IJF: Quanto da publicação deste artigo, em 1909, o Império Austro-Húngaro ainda existia. A antiga província romana da Panônia compreenderia atualmente parte dos territórios dos seguintes países: Hungria, Áustria, Croácia, Sérvia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina e Eslováquia.

Fonte: Kirsch, Johann Peter. “Four Crowned Martyrs.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 6. New York: Robert Appleton Company, 1909. 7 Nov. 2021 http://www.newadvent.org/cathen/06163a.htm.

Traduzido por Leonardo Brum.

[Segue abaixo oração aos santos, por ocasião de sua festa, a 8 de novembro, Extraída do Missale Romanum, Ed. Vozes, 1943.]

OREMOS

Fazei, Deus onipotente, que, sabendo da coragem de que deram prova os vossos gloriosos Mártires no seu suplício, sintamos os efeitos da sua bondade intercedendo por nós na vossa presença. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

OREMUS

Præsta, quæsumus, omnípotens Deus: ut, qui gloriósos Mártyres fortes in sua confessióne cognóvimus, pios apud te in nostra intercessióne sentiámus. Per Dóminum nostrum Jesum Christum.