Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Festa da Exaltação da Santa Cruz

D. Crhisóstomo d’Aguiar

Depois que o glorioso imperador Constantino alcançou sobre os seus inimigos a retumbante vitória que justamente atribuiu à Cruz que lhe apareceu fulgente nos ares, mandando, depois, que lha reproduzissem no lábaro imperial, sua Mãe, Santa Helena, dirigiu-se a Jerusalém, a ver se conseguia descobrir a verdadeira Cruz. De fato, ao principiar do segundo século, o imperador Adriano havia encontrado o Calvário, bem como o Santo Sepulcro, soterrados debaixo dum terreno de cem metros de comprido. Havia ali uma estátua levantada em honra a Júpiter, e, não longe, um templo consagrado a Vênus. Mandando arrasar os monumentos do paganismo, a piedosa imperatriz, após porfiadas e meticulosas escavações, teve o gosto de ver descobertos os cravos e a Cruz – árvore sagrada que a cura portentosa duma mulher a todos fez reconhecer. Do madeiro precioso que foi digno de suportar o Rei do Céu mandou santa Helena fazer três partes, uma das quais, levada para Roma, foi colocada na igreja que por esse motivo se ficaria chamando, daí em diante, santa Cruz em Jerusalém; a outra ficou em Constantinopla, e a terceira, enfim, em Jerusalém mesmo, com grande veneração de todos os cristãos, que na sagrada Relíquia viam a recordação dos sofrimentos do Salvador.

Transcorridos largos anos, pelos fins do reinado de Fócas, o rei da Pérsia Cósroes assenhorou-se de Jerusalém, e foram trucidados e mortos alguns milhares de fiéis. A Relíquia da santa Cruz foi levada como penhor para a Pérsia, onde se conservou poucos anos, uns doze. Heraclio, o piedoso sucessor de Fócas, depois de multiplicados jejuns e orações a implorar com muito fervor o auxílio de Deus para a empresa que projetava, consegue reunir um poderoso exército e vai combater o ímpio Cósroes. Desbarata-o, e exige que seja restituída e reconduzida a Jerusalém a Cruz do Senhor que Helena depusera no Calvário, e assim a preciosa Relíquia ficou de novo exposta ao culto fervoroso dos cristãos. Ao entrar em Jerusalém, o imperador carrega-a aos ombros, e assim a leva até ao lugar onde, nos braço dela, sofrera os tormentos da morte o divino Supliciado. Mas, oh prodígio! Brilhante de pedrarias e ouro, Heraclio sente que uma força invencível lhe embarga os passos e o impede de seguir da porta que dá acesso para o monte Calvário; quantos mais esforços faz por avançar, mais presos lhe parecem os pés!

Estupefatos todos à vista da portentosa cena, cuidado, imperador!, exclama o patriarca de Jerusalém, Zacarias; com essas vestes triunfais, não se imita a pobreza de Jesus Cristo nem a humildade com que levou a sua Cruz! O piedoso imperador despoja-se das suntuosas vestes, e de pés descalços, com um manto vulgar, põe-se a caminho: o resto do trajeto fez-se sem dificuldade, e no mesmo lugar donde os persas o haviam tirado, é de novo posto o troféu da Salvação.

Foi este fato maravilhoso que deu lugar à solenidade da Exaltação da santa Cruz.

Unamos o nosso espírito e o nosso coração ao de todos os fiéis, e cantemos as glórias da Cruz, donde Jesus nos está chamando: Quando eu for exaltado da terra, atrairei tudo a mim. Porque Ele se humilhou e se fez obediente até a morte, Deus o elevou e lhe deu um nome que está acima de qualquer outro nome; e por isso nós devemos gloriar na Cruz de Jesus que é nossa salvação, e protege os que nele confiam contra as emboscadas dos nossos inimigos. Recordando a paixão do Salvador e em particular o seu símbolo, a Cruz, não nos contentemos em prestar homenagem exterior ao instrumento da Paixão; exaltemo-lo, sim, pela prática generosa das virtudes que, do alto da Cruz, nos prega o divino Modelo, porque toda a perfeição cristã está em termos em nós os sentimentos de Cristo Jesus, e somente partilharemos com Ele da glória celeste um dia, se com Ele houvermos obedecido e vivido humildemente.

Cantemos a gloriosa obediência de Jesus, seguindo após a sua Cruz, e saciemo-nos das graças e celestes favores que da sua Paixão emanam para nós.

Nosso Senhor, suspenso entre o Céu e a terra, obtém completa vitória: o demônio já não é senhor das almas, e salva-se toda a criatura que se volta para Ele podendo cantar: 

O Cruz, ave, Spes unica!

Ave, ó Cruz, que és nossa única esperança!


Fonte: Missale Romanum, Ed. Vozes, 1943