D. Crisóstomo d’Aguiar
Está chegado ao seu termo o ciclo da Páscoa: esboçada nas suas grandes linhas a organização da Igreja, fortalecida a fé dos discípulos, o Mestre já pode subir aos Céus e ali consumar a vida, no seio do Pai.
Quarenta dias depois da Ressurreição, estão os Apóstolos reunidos no Cenáculo em Jerusalém, e Jesus, entrando, toma com eles uma derradeira refeição. Condu-los depois para fora da cidade, para as bandas de Betânia, ao Monte das Oliveiras. Abençoa-os, e daí elevou-se para os Céus. Era meio dia. Uma nuvem escondeu Jesus dos olhos dos Apóstolos, mas dois Anjos anunciam que Ele há de descer, no fim do mundo, para pôr termo definitivo à sua missão redentora.
Assim devia ser: cessando de pisar a lama desta terra de miséria, Cristo era mister que voltasse ao Pai, no seio do qual, como Deus, estava desde toda a eternidade, sendo recebida a sua humanidade, como se exprime S. Cipriano, “com júbilos que jamais língua de homens poderá exprimir”. De posse do Reino que seus sofrimentos lhe mereceram, o Salvador pôs “a nossa frágil natureza à direita da glória de Deus”, abrindo-nos a casa do seu Pai onde temos de ocupar, como filhos de Deus, o posto dos Anjos que caíram.
Os Anjos saúdam e aclamam como Rei (Sl. 23) Aquele que vencera o demônio, e as almas às quais abrira as prisões do Limbo formam gloriosa escolta em redor d’Ele.
Já que Cristo triunfou, triunfará a sua Igreja. No dia da Ascensão o Salvador, que, como o Sacerdote Supremo da Antiga Lei, entrou no Celeste Jerusalém para nos obter os favores de Deus, oferecendo por nós o seu próprio sangue, começa o seu sacerdócio celeste e “faz-se nosso perpétuo intercessor perante o Pai”; obtém-nos o divino Espírito com os seus dons. Assim a Ascensão é o complemento, a perfeição de todas as festas, o princípio da nossa santificação.
Ao Céu, portanto, os nossos corações, pensamentos, aspirações!
Peçamos a Deus nos deixe habitar em espírito com Jesus, nas regiões celestes (Oração), e ofereçamos-lhe o divino Sacrifício “em memória da gloriosa Ascensão do seu Filho”, afim de que, livres dos males presentes, com Ele possamos chegar à vida eterna (Secreta).
Para isso esforcemo-nos por “habitar lá nos Céus com Cristo”; subamos lá em espírito, façamos de todas as coisas um ato de “glorificação a Deus por Jesus Cristo”.
É este o espírito de religião para com o Pai, ideia mestra da vida de Cristo cá na terra, que Ele ainda continua a realizar no Céu e nós somos chamados a realizar no mundo, até à hora da nossa futura consumação em Deus.
[Segue abaixo o próprio da Missa da Ascensão]