Sociedade civil católica, destinada à difusão da Cultura Ocidental e à atuação política em defesa da família, em observância à Doutrina Social da Igreja.

Festa da Circuncisão

John Tierney, Enciclopédia Católica

Como Cristo desejou cumprir a lei e mostrar Sua descendência de acordo com a carne de Abraão, Ele, embora não fosse limitado pela lei, foi circuncidado no oitavo dia (Lucas 2:21), e recebeu o nome sublime de Seu ofício: Jesus; ou seja, Salvador. Ele foi, como diz São Paulo, “feito sob a lei”, que quer dizer, Ele se submeteu à Dispensação Mosaica, “para que assim pudesse redimir os que estavam abaixo da lei: para que pudéssemos receber a adoção de filhos” (Gálatas 4: 4, 5). “O Cristo, a fim de cumprir toda a justiça, foi obrigado a suportar esta humilhação e levar em Seu corpo o estigma dos pecados que Ele tomou sobre si mesmo” (Fouard, A Vida de Jesus, p. 54). . A circuncisão ocorreu não no Templo, embora os pintores por vezes assim representem, mas em alguma casa particular, onde a Sagrada Família encontrou uma hospitalidade bastante tardia. A cerimônia pública na sinagoga, que agora é usada, foi apresentada mais tarde. O Natal foi celebrado em 25 de dezembro, mesmo nos primeiros séculos, pela Igreja Ocidental, de onde a data foi logo adotada também no Oriente. São Crisóstomo credita tal tradição ao Ocidente, e Santo Agostinho também toca neste assunto como sendo há muito estabelecido. Consequentemente, a circuncisão caiu no dia primeiro de janeiro. Nos tempos do paganismo, todavia, a solenização da festa era quase impossível, por conta das orgias ligadas às festividades de Saturno, cujas datas coincidiam. Mesmo nos nossos dias, as características seculares da abertura do Ano Novo interferem uma observância religiosa da circuncisão, e tendem a tornar um mero feriado aquilo que deveria portar o caráter sagrado de Dia Santo. Santo Agostinho aponta a diferença entre o pagão e a maneira cristã de celebrar o dia: banquetes pagãos e excessos deveriam ser expiados pelo jejum e oração cristãos (P.L., XXXVIII, 1024 sqq .; Serm. cxcvii, cxcviii). 

A Festa da Circuncisão foi mantida em uma data primitiva no Rito da Galácia, como é claramente indicado no Concílio de Tours (567), no qual a Missa da Circuncisão é prescrita (Con. Tur., II., Can. Xvii em Labbe, V, 857). A festa celebrada em Roma no sétimo século não foi a circuncisão como tal, mas a oitava do Natal. O Sacramentário Gelasiano dá o título “In Octabas Domini”, e proíbe os fiéis da idolatria e das profanidades da temporada (P.L., LXXIV, 1061). Os primeiros calendários bizantinos (oitavo e nono séculos) apontam, no dia primeiro de janeiro, a circuncisão e o aniversário de São Basílio. A festa da circuncisão foi observada na Espanha antes da morte de Santo Isidoro (636); para o “Regula Monachorum“, X, lê-se: “Decerto fora um regozijo para os Padres nomear uma época santa desde o dia do nascimento do Senhor até o dia de sua circuncisão “(PL, LXXXIII, 880). Parece, portanto, que a oitava era mais proeminente nos primeiros séculos e a circuncisão mais tarde. 

Deve-se notar também que a Santíssima Virgem Maria não fora esquecida nas festividades da época santa, e a Missa em sua honra fora por vezes celebrada neste dia. Hoje, também, enquanto no Missal e no Breviário a festa leva o título “In Circumcisione Domini et Octav Nativitatis“, as orações têm referência especial para a Santíssima Virgem, e no Ofício, as respostas e antífonas expõem seus privilégios e a exaltam em prerrogativas maravilhosas. Os salmos para as Vésperas são os indicados para suas festas, e as antífonas e o hino das Laudes A mantêm constantemente à vista. Com o desvanecimento do paganismo, as festividades religiosas da circuncisão tornaram-se mais conspícuas e solenes; contudo, mesmo no século X, Atto, bispo de Vercelli, repreendeu aqueles que profanaram a época santa com danças pagãs, cantos e acender de lâmpadas (P.L. CXXXIV, 43). 


Fonte: Tierney, John. “Feast of the Circumcision.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 3. New York: Robert Appleton Company, 1908. 31 Dec. 2018 <http://www.newadvent.org/cathen/03779a.htm>.

Traduzido por Isabel Serra.