Pe. René François Rohrbacher
Bisonhos ainda sobre o mistério da cruz, sem fazer ideia do que devia ser o reino de Cristo, os dois filhos de Zebedeu, João e Tiago, pela mãe, fizeram um pedido ao divino Mestre.
Então aproximou-se dele a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos, prostrando-se, para lhe fazer um pedido.
Ele lhe disse:
— Que queres?
Ela respondeu:
— Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.
Jesus respondendo, disse:
— Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber?
Eles lhe responderam:
— Podemos.
Disse-lhes:
— Efetivamente haveis de beber o meu cálice, mas, quanto a estardes sentado à minha direita ou à esquerda, não pertence a mim conceder-vo-lo, mas será para aqueles, para quem está reservado por meu Pai.
Dos filhos de Zebedeu e Salomé, Tiago não esperou muito tempo para beber do cálice da Paixão de Jesus, foi o primeiro apóstolo a dar o sangue e a vida pelo Mestre.
Naquele mesmo tempo o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para os maltratar. Matou à espada Tiago, irmão de João.
Quanto ao irmão, ao discípulo amado, esperou longamente o cumprimento da palavra de Jesus, sob Domiciano.
Domiciano foi quem lhe apresentou o cálice, aquele déspota detestável que inaugurou a segunda perseguição geral da Igreja, déspota do qual Tácito (55-118) escreveu que, em crueldade, ultrapassou o próprio Nero tristemente famoso. Domiciano, ensina-nos os historiógrafos, sustentou a sua popularidade apoiado nos confiscos, explorando os ricos. Sob tal homem, de espírito voltado para as vinganças, a corporação senatorial baixou a extrema abjeção: diz-se que chegou, em sessão, a discutir qual molho seria mais adequado para se servir com determinada qualidade de peixe. Em 96, este filho de Vespasiano morreu violentamente: assassinado, teve as estátuas abatidas e os decretos anulados pelo Senado. Desde então, João pôde retornar a Éfeso e tranquilamente viver sob Nerva, um dos membros do Senado, o qual governou paternalmente.
Depois da morte de Maria, Mãe de Jesus, João foi para Éfeso, onde governou a Igreja da Ásia. Preso, foi conduzido a Roma, no ano 95. Conforme a prática romana, possivelmente o Apóstolo suportou a flagelação. Velho já, foi mergulhado numa caldeira de azeite fervente, donde, miraculosamente, saiu, não só ileso, mas rejuvenescido, saudável e vigoroso.
Domiciano, como a maioria dos pagãos, viram no prodígio o poder da magia. Exilado o predileto de Jesus para a Ilha de Patmos, São João ali escreveu o Apocalipse. Morto Domiciano, voltou a Éfeso, como vimos, e lá morreu centenário, sessenta e oito anos depois da Paixão de Cristo.
O suplício do Evangelista ocorreu diante da Porta Latina. Em memória do milagre, no local do suplício edificou-se uma igreja, igreja que, em 722, foi reconstruída pelo papa Adriano I.
Fonte: “Vida dos Santos”, Pe. Rohrbacher.
[Segue abaixo oração da Festa de São João diante da Porta Latina, extraída do Missale Romanum, 1943]
OREMOS Ó Deus, que nos vedes perturbados pelos males que de todos os lados nos rodeiam, fazei com que nos proteja junto de Vós a gloriosa intercessão de S. João, vosso Apóstolo e Evangelista. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. | OREMUS Deus, qui cónspicis quia nos úndique mala nostra pertúrbant: præsta, quæsumus; ut beáti Joannis Apóstoli tui et Evangelistæ intercéssio gloriósa nos prótegat. Per Dóminum. |