Patrick Toner, Enciclopédia Católica
Dependência essencial do universo para com Deus (criação e conservação)
No desenvolvimento do argumento da Causa Primeira, vimos que o mundo é essencialmente dependente de Deus e esta dependência implica em primeiro lugar que Deus é o Criador do mundo – o produtor de todo o seu ser ou substância – e em seguida, supondo sua produção, que sua continuação em ser a cada momento se deve ao Seu poder sustentador. Criação significa a produção total de um ser a partir do nada, ou seja, trazer um ser à existência para substituir a inexistência absoluta, e a relação do Criador é a única relação concebível em que o Infinito pode permanecer com o finito. Teorias panteístas, que representariam as variedades do ser no universo como tantas determinações ou emanações ou fases de uma mesma realidade eterna – Substância de acordo com Spinoza, Puro Ego de acordo com Fichte, o Absoluto de acordo com Schelling, a Ideia Pura ou Conceito Lógico de Hegel – simplesmente se eriçam de contradições e envolvem, como já foi afirmado, uma negação da distinção entre o finito e o infinito. E a relação do Criador com o criado permanece a mesma, embora a possibilidade da criação eterna seja admitida; o Infinito deve ser o produtor do finito, embora seja impossível estabelecer um momento em que a produção ainda não tenha ocorrido. Por certo conhecimento do fato de que o ser criado, e o próprio tempo, teve um início definido no passado, podemos nos dar ao luxo de confiar na revelação, embora, como já foi dito, a ciência sugira o mesmo fato.
Também é claro que, se o universo depende de Deus para sua produção, também deve depender d’Ele para sua conservação ou continuidade em ser; e esta verdade será talvez melhor apresentada explicando o tão falado princípio da imanência Divina corrigido e equilibrado pelo princípio igualmente importante da transcendência Divina.
Imanência e transcendência divina
Aos deístas é atribuída a visão – ou pelo menos uma tendência à visão – de que Deus, tendo criado o universo, deixa-o seguir seu próprio curso de acordo com leis fixas e cessa, por assim dizer, qualquer interesse posterior nele, ou responsabilidade pelo que pode acontecer; e a imanência divina é exortada, às vezes com veemência, em oposição a essa visão. Deus é imanente, ou intimamente presente, no universo porque Seu poder é necessário a todo o momento para sustentar as criaturas em existência e para concordar com elas em suas atividades. Conservação e concordância são, por assim dizer, continuações da atividade criadora e implicam uma relação igualmente íntima de Deus para com as criaturas, ou melhor, uma dependência igualmente íntima e incessante das criaturas de Deus. Sejam quais forem as criaturas, elas são em virtude do poder conservador de Deus; o que quer que façam, o fazem em virtude da concordância de Deus. É claro que não se nega que as criaturas são verdadeiras causas e produzem efeitos reais; mas são apenas causas secundárias, sua eficiência é sempre dependente e derivada; Deus como a Causa Primeira é um cooperador sempre ativo em suas ações. Isso é verdade até mesmo para os atos livres de uma criatura inteligente como o homem; apenas deve ser acrescentado, neste caso, que a responsabilidade divina cessa no ponto em que o pecado ou o mal moral entra em ação. Visto que o pecado como tal, entretanto, é uma imperfeição, nenhuma limitação é imposta à supremacia de Deus.
Mas para que a insistência na imanência divina não degenere em panteísmo – e há uma tendência nessa direção por parte de muitos escritores modernos – é importante, ao mesmo tempo, enfatizar a verdade da transcendência de Deus, para lembrar, em outras palavras, o que já foi afirmado várias vezes: que Deus é um Ser pessoal simples e infinitamente perfeito, cuja natureza e ação em seu caráter próprio como Divino transcende infinitamente todos os modos possíveis do finito, e não pode, sem contradição, ser formalmente identificado com eles.
Possibilidade do sobrenatural
De um estudo da natureza, inferimos a existência de Deus e deduzimos certas verdades fundamentais a respeito de Sua natureza e atributos, e de Sua relação com o universo criado. E a partir delas é fácil deduzir outra verdade importante, com uma breve menção da qual podemos concluir apropriadamente esta seção. Por mais maravilhoso que possamos considerar o universo, reconhecemos que nem em sua substância nem nas leis pelas quais sua ordem é mantida, na medida em que a razão pode vir a conhecê-las sem ajuda, ele esgota o poder infinito de Deus ou revela perfeitamente Sua natureza. Se então for sugerido que, para complementar o que a filosofia ensina sobre si mesmo e seus propósitos, Deus pode estar disposto a favorecer criaturas racionais com uma revelação pessoal imediata, na qual Ele auxilia os poderes naturais da razão, confirmando o que eles já sabem, e transmitindo a eles muita coisa que eles não poderiam saber de outra forma, será percebido imediatamente que isso não contém impossibilidade. Tudo o que é necessário para perceber isso é que Deus deve ser capaz de se comunicar diretamente com a mente criada, e que os homens devem ser capazes de reconhecer, com certeza suficiente, que a comunicação é realmente Divina – e que ambas as condições são capazes de ser cumpridas, nenhum Teísta pode negar logicamente. Assim sendo, seguir-se-á ainda que o conhecimento assim obtido, garantido pela autoridade d’Aquele que é a Verdade infinita, é o conhecimento mais certo e confiável que podemos possuir.
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Fonte: Toner, Patrick. “Relation of God to the Universe.” The Catholic Encyclopedia. Vol. 6. New York: Robert Appleton Company, 1909. 13 Oct. 2020 <http://www.newadvent.org/cathen/06614a.htm>.
Traduzido por Ruan Gabriel Cardoso.